Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.

Notícias

project img
18 de Agosto de 2021 às 10:08

Artigo - A indústria da construção, a retomada da economia e os preços dos materiais


José Carlos Martins é presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)

A indústria da construção é um dos setores mais importantes para garantir a retomada da economia brasileira. Em especial no período pós-pandemia, em que o país se depara com uma série de desafios, o segmento tem a capacidade de potencializar o crescimento nacional e a necessária geração de emprego e renda. As suas atividades representam um universo ainda maior do que a produção de moradias. São escolas, hospitais, portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, saneamento, infraestrutura urbana, entre tantos outros trabalhos.

Ou seja, é um segmento que, além de impulsionar a economia nacional, exerce um importante papel social. É ele que pode construir as bases sólidas para o desenvolvimento sustentado que o Brasil tanto precisa. Contudo, o potencial do setor tem sido abafado e mitigado por uma série de fatores que precisam ser revistos de forma urgente, ou a sua recuperação (e também da economia) acontecerá de forma mais tímida e lenta.

Atualmente o principal problema enfrentado por empresários do setor é a falta ou o alto custo de matérias-primas. Há exatamente um ano o custo com materiais de construção vêm apresentando variações elevadas, com impacto direto no orçamento das empresas. E esse problema ainda persiste. O custo com materiais nos primeiros seis meses deste ano aumentou 16,19% e, nos últimos 12 meses, 34,09%, de acordo com o INCC, calculado pela Fundação Getúlio Vargas. Um recorde infeliz para o setor que carrega em sua essência a capacidade de se tornar um dos principais responsáveis pela retomada econômica do Brasil pós-pandemia. Neste período, alguns insumos registraram aumentos em seus preços superiores a 70%, algo inconcebível para uma economia que adquiriu o controle da hiperinflação em 1994, com a chegada do real.

É preciso destacar o efeito perverso que esse forte aumento de custos exerce sobre o setor. Nas obras públicas, por exemplo, caso não aconteça um reequilíbrio econômico nos contratos, os projetos já iniciados poderão ser inviabilizados. O justo receio dos empreendedores em atuar em obras públicas por conta dos aumentos nos insumos já está comprometendo a edificação de hospitais e escolas, por exemplo. Concorrências desertas por todo o país e um enorme prejuízo para a população que não terá a obra de infraestrutura em seu município. Afinal, como se comprometer com uma obra pública hoje sem garantias de se ter recursos para continuar amanhã?

No mercado imobiliário, os lançamentos de novas unidades podem ser adiados em função do incremento acentuado nos preços dos seus insumos básicos. E a queda de 58% nos lançamentos de novos empreendimentos imobiliários, entre o último trimestre de 2020 e o primeiro de 2021, mostra essa preocupação do empreendedor com a elevação no preço dos insumos.

O impacto mais imediato do aumento dos custos é social, quando o trabalhador corre o risco de perder seu emprego ou vê se esvair sua chance de se posicionar no mercado de trabalho. Afinal, as incertezas fazem com que o ritmo da indústria da construção comece a desacelerar. Isso em um cenário em que o desemprego atinge mais de 14 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma triste realidade nacional.

Ativar a construção significa estimular dezenas de segmentos da economia. Afinal, os insumos são basicamente nacionais, a cadeia produtiva gera emprego e renda no Brasil e cada real investido na produção de moradias mais do que dobra o valor da produção.

No entanto, é preciso tirar as travas que prejudicam o bom andamento de suas atividades. O setor precisa de políticas públicas eficientes, de medidas que impeçam aumentos abusivos nos insumos, além de ajuste nos altos impostos de importação para viabilizar a entrada de materiais quando o mercado interno não conseguir abastecer o segmento.

Com uma atividade tão robusta e impactante na economia brasileira, é certo que a construção civil pode ser a grande mola propulsora para a retomada do desenvolvimento nacional. Garantir o crescimento do setor significa dinamizar a geração de emprego e renda tão necessários e desejados. Ou seja, representa desenvolvimento social para o país, em especial neste momento tão delicado que o mundo atravessa.

*Artigo publicado no dia 12/8, no portal WIZ.

**Artigos divulgados neste espaço são de responsabilidade do autor e não necessariamente correspondem à opinião da entidade.