A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) elevou de 3,5% para 6% a projeção de crescimento do setor em 2022. O número integra o estudo “Desempenho Econômico da Indústria da Construção – terceiro trimestre de 2022”, divulgado pela entidade, nesta terça-feira (1º), em correalização com o Senai Nacional.
De acordo com a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, o setor surpreendeu e deve registrar incremento de 6% em seu Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. “Depois de registrar alta de 9,7% em 2021, era esperado um crescimento de 3,5% neste ano. Entretanto, os números já conhecidos do segundo semestre levaram a uma forte revisão de estimativa. Dessa forma, a construção registrará o segundo ano consecutivo de alta superior à economia nacional, o que não acontecia desde 2012/2013. Também é importante destacar que o incremento das atividades do biênio 2021/2022 será de 16,28%, o maior desde o período 2010/2011, quando cresceu 22,37%”, destacou.
Para o presidente da CBIC, José Carlos Martins, a estimativa de crescimento do PIB do setor em 6% reforça a relevância da construção para o desenvolvimento sustentável do país. “Novamente os números confirmam nossas expectativas e impressionam pela consistência. Quando o Brasil nos dá condição, respondemos com geração de renda, estabilidade social, melhoria da qualidade de vida das pessoas”, enfatizou.
O estudo apontou que os resultados do PIB da construção civil no 2º trimestre de 2022 superaram os da economia nacional em todas as bases de comparação e mostraram que o setor apresenta alta há oito trimestres consecutivos. O resultado acumulado em quatro trimestres, comparado com os quatro trimestres anteriores, mostra um crescimento do segmento de 10,5% contra 2,6% do PIB do país.
O levantamento da CBIC evidencia que desde o 3º trimestre de 2020 o setor vem apresentando números positivos, como resultado do ciclo de negócios em andamento, originado com o incremento das atividades do mercado imobiliário no 2º semestre de 2020. “Com a chegada da pandemia no Brasil as famílias ressignificaram o valor da casa própria. Assim, os lançamentos imobiliários e as vendas cresceram, trazendo um maior dinamismo para a atividade setorial. Como o ciclo de produção é longo, ainda assistimos o incremento das atividades em função disso”, afirmou a economista.
De acordo com o levantamento, o setor superou o patamar de atividades pré-pandemia, mas ainda está longe de alcançar o seu pico de atividades. O nível atual é de 12,5%, superior ao registrado no final de 2019, e também 24,9% maior do que o observado no 2º trimestre de 2020, quando a pandemia efetivamente se instalou no Brasil. “Apesar do desempenho positivo, o setor ainda está com nível de atividades 23,69% inferior ao pico registrado no início de 2014. Já a economia nacional está 0,3% inferior ao seu maior patamar, também alcançado no início de 2014. Considerando a alta de 6% para a construção, em 2022, o setor ainda acumulará queda de 21,59% no período 2014-2022. Ou seja, a construção ainda precisa avançar muito para recuperar o seu ritmo de atividades”, disse a especialista.
José Carlos Martins destacou a capacidade produtiva do setor e a importância de o novo governo eleito incentivar a construção. “Estamos com o melhor desempenho dos últimos 10 anos, apesar de ainda estarmos abaixo do que já fomos. Temos muitos desafios pela frente, como dar continuidade aos programas habitacionais, deslanchar a infraestrutura, fomentar a infraestrutura de menor investimento, a reforma administrativa, entre outras medidas que podem incentivar o setor que é a âncora da economia nacional”, disse.
O mercado formal de trabalho da construção registrou o melhor desempenho dos últimos 10 anos. De janeiro a setembro deste ano, o setor gerou um saldo positivo de 283.566 novas vagas com carteira assinada, conforme os dados do Novo Caged, divulgados pelo Ministério do Trabalho. De acordo com a economista, esse é o melhor resultado para o período desde 2011.
José Carlos Martins lembrou que o setor superou o patamar de 2,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada e que de julho de 2020 a setembro deste ano já foram criadas mais de 665 mil novas vagas de trabalho. “Mesmo com a pandemia, o setor foi resiliente, superou os inúmeros desafios que o período impôs, cuidou de seus trabalhadores e respondeu de forma positiva para a economia do país. Isso mostra a força econômica e social da construção para o país”, afirmou.
Segundo o levantamento da CBIC, todos os segmentos de atividade da construção registraram aumento na geração de vagas com carteira assinada no período de julho de 2020 até setembro de 2022. Com destaque para construção de edifícios e serviços especializados – atividades relacionadas a construção de edifícios como demolição e preparação do terreno, instalações elétricas, hidráulicas, obras de acabamento e obras de fundações, que responderam por 63,37% das novas vagas geradas no período.
“O incremento das atividades da construção tem se mostrado, de forma mais evidente, no mercado de trabalho formal. Somente nos primeiros nove meses do ano foram criadas 283.566 novas vagas no setor. Isso significa que ele respondeu por 13,20% do total de novas vagas formais abertas no Brasil (2.147.600) nos primeiros nove meses do ano”, explicou Ieda.
Em uma análise sobre os estados, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e Santa Catarina apresentaram os melhores resultados em 2022. Com exceção de Roraima, todas as localidades registraram saldos (diferença entre admitidos e desligados) positivos na geração de novas vagas no setor no acumulado dos primeiros nove meses do ano. Entre as regiões que mais abriram postos formais de trabalho este ano, estão o Sudeste, com 131.664 novas vagas, e Nordeste, com 59.580 novas vagas.
Nos meses de agosto e setembro deste ano, o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) registrou variação de 0,09%. Segundo Ieda Vasconcelos, apesar das variações mais modestas do que as observadas anteriormente, o custo da construção apresenta forte elevação no acumulado desde 2020.
“O INCC/FGV do mês de setembro de 2022 registrou variação de 0,09%, a mesma observada no mês anterior. Esse resultado aconteceu em função dos resultados do custo com materiais e equipamentos, que apresentou queda de 0,21% em agosto e de 0,31% em setembro. As variações foram mais modestas nos últimos meses, mas o custo da construção acumula elevação superior a 30% desde 2020. Isso significa que mesmo sem variações fortes nos últimos dois meses, o custo está em patamar elevado e bem superior ao período pré-pandemia”, reiterou.
A elevada taxa de juros passou a ser o principal problema da construção no 3º trimestre de 2022, conforme a pesquisa Sondagem da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com o apoio da CBIC. Há oito trimestres a posição era ocupada pelo alto custo da matéria prima, que deixou a liderança e ficou em terceiro lugar. Em segundo lugar, os empresários apontaram como problema a elevada carga tributária. “Vale ressaltar que a Selic aumentou 11,75 pontos percentuais, passando de 2% em março de 2021 para 13,75%”, lembrou a economista.
O nível de atividade do segmento está no maior patamar médio desde 2010. Na média dos primeiros nove meses de 2022, alcançou 51 pontos, o que corresponde ao maior patamar desde 2010. Segundo Ieda, também é a primeira vez, desde 2010, que a média deste indicador ultrapassa 50 pontos, evidenciando o bom momento do setor.
De acordo com o estudo, o nível de atividade está sendo puxado pela construção de edifícios que, nos primeiros nove meses do ano 2022, alcançou a média de 52,5 pontos, seguido pelos serviços especializados para construção (50,2 pontos). As obras de infraestrutura, apesar do incremento em relação a igual período dos anos anteriores, ainda possuem média inferior a 50 pontos.
Há três meses consecutivos, o Iceicon, indicador de confiança da construção civil, se mantém no patamar de 60%, o que demonstra que a confiança dos empresários do setor está disseminada. A última vez que o Iceicon permaneceu no patamar de 60 pontos, por três meses consecutivos, foi no período pré-pandemia (dezembro de 2019 a fevereiro de 2020).
A economista da entidade apontou alguns fatores que contribuíram para o segundo ano de forte crescimento da construção civil. Entre eles estão a demanda consistente; a desaceleração da inflação; o desempenho da infraestrutura; a oferta de crédito imobiliário em patamar elevado e as mudanças nas regras e condições de financiamento do Programa Casa Verde e Amarela.
Em julho deste ano, o Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) anunciou algumas alterações nas regras e condições do Programa Casa Verde e Amarela, como aumento nas faixas de renda do programa, reajuste da renda máxima para obter o financiamento (de R$ 7 mil para R$ 8 mil) e ampliação do número de anos do crédito de 30 para 35 anos.