Ciente do potencial da construção em madeira no Brasil nos próximos anos, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) confirmou, nesta quinta-feira (23), que participará e apoiará debates e projetos relacionados ao fortalecimento do mercado no país. Ainda visto com certa desconfiança por alguns, esse tipo de construção é a aposta de empresas especializadas para ampliar o interesse pelo produto, impulsionar as vendas e garantir a preservação do meio ambiente. É o que afirmaram pesquisadores do tema durante o debate “Futuro da Construção em Madeira”, no último dia do 94º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), o 94º Enic | Engenharia & Negócios, promovido pela CBIC.
Segundo o diretor do Instituto Amazônia+21, Marcelo Thomé, a organização iniciou um processo de articulação com os nove estados da Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso), com o Sesi e Senai, e em parceria com a CBIC, para estudar um projeto a fim de impulsionar a fabricação da madeira laminada colada (MLC), também conhecida como Glulam (por seu nome inglês ‘Glued Laminated Timber‘). Consiste em um material estrutural fabricado por meio da união de segmentos individuais de madeira, colados com adesivos industriais, geralmente adesivos de resina de melamina ou poliuretano.
“Estudo publicado pela Federação das Indústrias do Mato Grosso, especificamente sobre a madeira laminada colada, mostra o potencial deste setor para o estado do Mato Grosso: uma estimativa de 1.400% de agregação do valor nesta cadeia produtiva e um estoque de terra de 15 milhões de hectares para incremento de florestas implantadas”, explicou Marcelo Thomé. “E o que propusemos à CBIC, junto ao seu presidente, é uma articulação por esse projeto, que vai acompanhar desde a plantação das árvores até a produção de habitações de interesse social”, acrescentou.
De acordo com os debatedores do Enic, o motivo pelo qual o Brasil ainda registra pouco investimento na construção em madeira deve-se à desconfiança com o produto, à preocupação com o meio ambiente e à ausência de conhecimento sobre o meio de produção. “A construção em madeira tem um potencial gigantesco no nosso país, mas, quando se fala nesse tipo de empreendimento, as pessoas ainda pensam em fogo, cupim e meio ambiente. Os dois primeiros já foram exaustivamente estudados: a madeira é segura e seu processo industrial é fiscalizado de perto. Ela dura por 300 anos, se deixar. Quanto ao meio ambiente, a madeira é uma matéria prima renovável, que mitiga a emissão de gás carbônico. E esse tipo de madeira para construção é plantada em florestas específicas para esse fim, ou seja, nós acabamos por proteger o bioma”, explicou a chefe de Negócios da Urbem, Ana Belizário.
Ainda de acordo com a arquiteta, a madeira utilizada para construções são do tipo engenheirada, que é processada industrialmente para otimizar o seu desempenho para uso na construção civil. Ela surge da transformação de matéria-prima com imperfeições naturais, para um material fabricado de excelente propriedade construtiva. Estados Unidos, Canadá e países europeus têm construído há anos empreendimentos em madeira, apontou a especialista. “A madeira engenheirada tem o aspecto visual muito parecido com o concreto já que tem a mesma resistência estrutural, só que com um quinto do peso. Aliás, o Brasil tem grandes chances de se tornar um exportador desse tipo de produto”, disse.
Em relação à desconfiança de empresários do ramo à adoção de madeira em seus empreendimentos, a sócia e diretora da Noah Construtech, Cíntia Valente, afirmou que é primordial mudar a cultura nacional sobre o tema, inclusive, com o apoio do poder público. “É como se a gente tivesse que limpar a memória das pessoas sobre a casa de madeira e reconstruir essa ideia. Além disso, é preciso ter o apoio do poder público e a gente ainda está longe disso aqui no Brasil. Em alguns países, o poder público faz isso de uma forma mais obrigatória, como na França em que todos os prédios públicos construídos a partir de agora precisam ter 50% de madeira”, contou.
Cíntia Valente mostrou ainda estudos internacionais que mostram o impacto das moradias e prédios em madeira na vida das pessoas, inclusive, para o bem estar. “Cases internacionais mostram que casas em madeira melhoram a concentração, reduzem o estresse, baixam a pressão sanguínea, elevam a produtividade, melhoram a satisfação, criam times mais eficientes. E mais: ao contrário do pensam, a madeira não limita, mas proporciona designs incríveis”, destacou.
O debate “Futuro da Construção em Madeira” foi conduzido pelo presidente da Comissão de Meio Ambiente, Nilson Sarti (CMA-CBIC), que pontuou os desafios e a importância de se estimular a discussão do tema no Brasil, especialmente para “quebrar preconceitos”.
O tema do Painel do Enic tem interface com o projeto “Incentivo à Sustentabilidade na Indústria da Construção”, da Comissão de Meio Ambiente (CMA) da CBIC, com a correalização do Senai Nacional.
O 94º Enic é realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e conta com a correalização do Sesi, Senai e patrocínio do Sebrae, Confea, Mútua, AltoQI, SoftwareONE, CV, Sienge e Caixa Econômica Federal.