De acordo com dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto brasileiro registrou alta de 1,2% no segundo trimestre na comparação dessazonalizada com o período anterior. No comparativo interanual, a alta foi de 3,2%. Com isso, o resultado cumulado nos quatro trimestres encerrados em junho passado atingiu 2,6%. Em 2022, o PIB acumula alta de 2,5%.
Como no primeiro trimestre, o setor de serviços foi decisivo para esse resultado positivo, tendo registrado alta dessazonalizada de 1,3%. Mas o desempenho da indústria também foi bastante favorável: 2,2% frente ao trimestre anterior, sempre com ajuste sazonal. Já a agropecuária teve alta de 0,5% nessa base de comparação. Sob a ótica da demanda, a formação bruta de capital foi o destaque avançando 4,8%, enquanto o consumo das famílias teve alta de 2,6%. Por sua vez, o consumo do governo caiu (-0,9%) em paralelo às exportações (-2,5%), enquanto as importações registraram alta (7,6%) em relação ao primeiro trimestre do ano.
No comparativo com igual período de 2021, chama a atenção a forte alta do setor de serviços (4,5%), o que evidencia que o processo de recuperação dos efeitos da pandemia ainda está em curso. Nesse setor, os melhores resultados se deram em outras atividades de serviços (13,6%), segmento que também já havia se destacado no primeiro trimestre e que inclui atividades como refeição fora de casa e entretenimento, fortemente afetados pelo isolamento social que havia se agravado no segundo trimestre de 2021.
Ainda na comparação interanual e sob a ótica da demanda, vale ressaltar o crescimento do consumo das famílias (5,3%). Dentre os fatores que impulsionaram esse indicador, o IBGE destaca o crescimento da massa salarial real – a despeito da piora na qualidade do emprego observada ao longo dos últimos trimestres – e o aumento do crédito a pessoas físicas, além do saque extraordinário do FGTS e a antecipação do décimo terceiro salário para aposentados e pensionistas do INSS.
No acumulado do ano até junho, a alta do PIB (2,5%) também registra forte influência do setor de serviços (4,1%), apesar da queda observada no PIB da agropecuária (-5,4%) e do desempenho fraco da indústria (0,2%).
Vistos sob uma perspectiva de futuro, esses números sugerem que o resultado do ano fechado de 2022 deverá ser mais favorável do que o previsto há alguns meses, podendo superar a marca de 2% frente a 2021. Mas, ao mesmo tempo, esse processo continua refletindo a descompressão do setor de serviços após o impacto da pandemia e não deve ser projetado como tendência para 2023.
Os efeitos do ciclo de alta das taxas de juros sobre o crédito e a capacidade de pagamento das famílias, somado ao perfil precário dos empregos gerados nos meses recentes – já destacado – devem atuar como limitadores do crescimento nos períodos à frente. A isso deve-se somar a necessidade de ajuste fiscal que irá recair sobre o próximo governo, bem como a persistência das incertezas do cenário internacional.
Enquanto isso, a atividade mensurada pelo PIB continua se beneficiando da nova dinâmica do setor de serviços cuja resultante é desconhecida em razão das grandes mudanças de hábito de consumidores e empresas, herança econômica da Covid-19.
A construção foi destaque, tendo surpreendido positivamente. Na comparação com o trimestre anterior, a alta de 2,7% além de indicar uma aceleração, configurou o oitavo trimestre de crescimento consecutivo. No ano, a taxa acumulada alcançou 9,5% em relação ao mesmo período de 2021.
É importante destacar que o segundo semestre do ano passado foi o período de taxas mais expressivas – houve variação de 4,4% no terceiro trimestre de 2021, na série com ajuste sazonal. Assim, na segunda metade do ano a base de comparação estará mais alta, o que torna pouco provável que a taxa de 9,5% seja mantida. No entanto, mesmo que o setor não tenha crescimento nos próximos dois trimestres teria garantido um crescimento de 7% em 2022. O mais provável é que ocorra alguma diminuição, trazendo a taxa para baixo disso. Mas de todo modo os números anteriormente previstos para 3,5% podem ser revistos para algo entre 4,5% a 5%.
Vale notar ainda que pela ótica da demanda, a construção também contribuiu para a elevação da formação bruta de capital, que na comparação com o trimestre anterior, com ajuste sazonal registrou variação de 4,8%. A taxa de investimento, que considera também máquinas e equipamentos, softwares e outros investimentos e ativos fixos, representou 18,7% do PIB nos primeiros dois trimestres de 2022.
O emprego na construção já vinha registrando o bom momento da atividade. O setor vivencia em 2022 os efeitos de um ciclo de investimentos relacionados ao período eleitoral e ao boom de lançamentos e vendas do mercado imobiliário dos últimos dois anos. Esse mercado vem mostrando uma resiliência importante ao longo do ano, o que sugere a continuidade desse ciclo, ainda que em ritmo menor. Mas no que diz respeito aos investimentos públicos, o cenário não é promissor.
Enfim, a diferença em relação ao pico do crescimento – primeiro semestre de 2014 – se reduziu, mas ainda é de 23,7%. Ou seja, o caminho para a recuperação ainda é longo.
Leia a íntegra da análise elaborada pelo FGV/Ibre para o SindusCon-SP aqui.
fonte: SINDUSCON-SP - https://sindusconsp.com.br/construcarta-conjuntura-pib-volta-a-crescer-acima-de-1-no-segundo-trimestre/