O PIB da construção pode crescer pelo menos 3,5% em 2022, mas a grave situação macroeconômica atual lança um elevado grau de incerteza sobre o desempenho do setor em 2023.
Esta foi a sensação dominante na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP em 10 de agosto, conduzida por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia, com a participação de Odair Senra, presidente da entidade.
De acordo com Zaidan, a indústria da construção ainda vive um bom momento em função dos negócios celebrados no passado. Já a contratação de novas obras ocorre em um momento conturbado politicamente e economicamente, nos cenários doméstico e mundial. Em relação aos preços dos insumos da construção, ele considera que não haverá muitas mudanças, numa conjuntura em que a desoneração dos combustíveis só vai até o final do ano. “O ano que vem não será fácil para ninguém”, comentou.
O professor da FGV Robson Gonçalves apresentou análises de diversos economistas, mostrando, de um lado, a dominância monetária: inflação e juros em elevação refletem no risco-país, nos fluxos de capital e na taxa de câmbio, retroalimentando a inflação; e de outro lado, a dominância fiscal, pela qual a percepção de descrédito motivada por este cenário pelos agentes econômicos também reflete naqueles fatores e alimenta a inflação. O rombo do teto de gastos piora esse cenário e o teto acaba se mostrando inútil como âncora fiscal.
Robson pontuou que, embora os preços das commodities e do petróleo tenham caído, persiste a incerteza em relação ao câmbio, e o clima interno não contribui para uma desejada queda dos preços. Segundo ele, há grande incerteza em relação a 2023, alimentada pela polarização das candidaturas à Presidência da República, as quais, segundo ele, mostram um discurso populista vazio, e tudo isso acontece num contexto da alta dos juros nos Estados Unidos, que também tende a elevar o câmbio. Há desconfiança em relação à mudança do teto de gastos em estudo no governo e a crise econômica deve reduzir a demanda e baixar o IPCA.
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, mostrou a evolução da construção no primeiro semestre e sua contribuição ao crescimento da atividade econômica do país.
Ela disse acreditar que o INCC (Índice Nacional de Custos da Construção) deverá fechar neste ano em um patamar próximo ao que se encontra neste momento (11,6% no acumulado de 12 meses até julho). “Parece que o pior momento do aumento do índice já passou, embora as incertezas globais ainda estejam presentes”, comentou.
Ana Castelo mostrou a queda no volume de concessão de crédito habitacional para aquisição de imóveis, mais acentuada nos usados, como reflexo da elevação dos juros. Relatou que os distratos têm aumentado, porém ainda não preocupam, porque acompanham o aumento do volume de vendas.
A economista afirmou que o maior reflexo negativo da situação atual tem sido na oferta e na demanda de habitação de interesse social. Por outro lado, as mudanças no programa Casa Verde e Amarela estão levando ao aumento das contrações no Grupo 3 do programa, e é possível que isso também aconteça com o Grupo 2, comentou.
Veja a apresentação aqui.
FONTE: SINDUSCON-SP - https://sindusconsp.com.br/incertezas-marcam-cenario-para-a-construcao-em-2023/